O voto de Jefté

Jefté é um personagem bíblico citado no livro de Juízes, ele foi o oitavo juiz de Israel. É chamado de "valente e valoroso", e sua vida é cheia de dramas familiares e controvérsias. Seu pai era gileadita (isto é, da tribo de Gileade), porém sua mãe era prostituta (Juízes 11:1), fazendo de Jefté um filho bastardo. A Bíblia nos conta que quando seus irmãos (filhos legítimos) cresceram expulsaram Jefté no intuito de que ele não tivesse direito a herança de seu pai (Juízes 11:2).

Jefté recebendo triste sua filha que sai ao seu encontro.

Naquele tempo o povo de Gileade estava sendo duramente oprimido pelos amonitas e as batalhas eram constantes, sendo assim, decidiram buscar Jefté para que ele comandasse a batalha, assim Jefté se tornou líder. O texto nos conta que Jefté envia mensageiros ao rei dos amonitas para saber a razão das guerras entre eles (Juízes 11:12-28), o rei dos amonitas responde acusando Israel de ter tomado suas terras, e Jefté relembra a história dos seus antepassados, quando Israel pediu passagem pacífica pelas terras de Seom (antigo rei amorreu) e este não somente nega passagem como sai para guerrear contra Israel, assim o Deus de Israel guerreou e os entregou nas mãos do povo de Israel, que venceu a guerra e herdou as terras. O fato é que os ânimos não se acalmaram e uma nova guerra era inevitável, e assim Jefté decide fazer um voto ao Senhor para vencer a batalha.

O voto de tolo

Fazer votos ao Senhor sempre foi um costume do povo de Israel citado na Bíblia diversas vezes. O voto era algo simples, mas profundo, e uma vez feito não deveria ser desfeito, precisava ser cumprido, podendo assim trazer bênçãos ou maldições.

Quando um homem fizer um voto ao Senhor ou um juramento que o obrigar a algum compromisso, não poderá quebrar a sua palavra, mas terá que cumprir tudo o que disse. Números 30:2

Quando fizeres um voto a Deus, não tardes em o cumprir, porque não se agrada de tolos. Cumpre o voto que fazes. Melhor é não fazeres voto do que fazê-lo sem o cumprir. Não consintas que a tua boca faça pecar a tua carne, nem digas na presença do anjo que foi um erro; por que se iraria Deus contra a tua voz e destruiria a obra das tuas mãos? Eclesiastes 5:4-6

O voto é voluntário, não é pedido por Deus, mas uma vez feito o voto não se pode voltar atrás, então é preciso pensar bem no que se vota, além disso, o ideal é fazer um voto que agrade a Deus, que esteja dentro dos seus padrões e não em oposição a eles. Se o voto não agrada a Deus, isto é, não está de acordo com os padrões bíblicos, ou não é cumprido pode ser considerado um voto de tolo, atraindo a ira de Deus.

O Voto de tolo de Jefté

Jefté faz um voto a Deus prometendo oferecer em sacrifício a primeira pessoa que saíssem pela porta quando ele voltasse vitoriosos da guerra, e a primeira pessoa que saiu foi sua filha única.

Fez Jefté um voto a Jeová e disse: Se, na verdade, me entregares nas mãos os filhos de Amom, a pessoa, seja ela qual for, que sair da porta da minha casa ao meu encontro, quando eu voltar vitorioso dos filhos de Amom, será de Jeová, e eu a oferecerei em holocausto. Juízes 11:30,31

Muitos ao ler esse texto se recusam a acreditar que alguém poderia fazer um voto como esse, mas é preciso entender bem o contexto daquela época. Israel estava constantemente distante e desagradando ao Senhor, adorando os deuses pagãos dos povos vizinhos. Naquele período os deuses mais comuns daquela região eram Moloque, Baal e Camos, este citado nesse mesmo capítulo de Juízes a propósito, e a forma de culto dessas divindades era o sacrifício humano. A maioria deles eram pais oferecendo seus filhos em sacrifício em troca de poder. Sendo assim, não parecia tão absurdo naqueles dias um voto como esse.

O grande problema, é que Deus deixou escrito e ordenou expressamente ao povo de Israel que estes não deveriam se misturar com esses povos, pois assim acabariam fazendo as mesmas abominações que eles faziam. Por isso Deus ordenou que esses povos deveriam ser exterminados da terra, evitando a contaminação dos demais povos com essas práticas abomináveis.

Infelizmente a história mostra que Israel não obedeceu as ordens de Deus, decidindo conviver com os povos que Deus mandou exterminar, além disso começaram a se casar e se misturar com eles, absorvendo assim seus costumes abomináveis e seus deuses. O resultado foi exatamente o que Deus disse que aconteceria.

Destruam completamente os hititas, os amorreus, os cananeus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus, conforme o SENHOR, seu Deus, lhes ordenou. Isso evitará que os povos da terra os ensinem a imitar os atos detestáveis que eles praticam quando adoram seus deuses, coisas que fariam vocês pecarem contra o SENHOR, seu Deus. Deuteronômio 20:17-18

Mas andou pelo caminho dos reis de Israel e até fez a seu filho passar pelo fogo, segundo as abominações dos pagãos, que Jeová expulsou de diante dos filhos de Israel. 2 Reis 16:3

O texto diz que Jefté se entristeceu muito ao ver sua filha única sair ao seu encontro, mas decidiu cumprir o voto mesmo assim, com o aval de sua filha inclusive, mostrando o quando era importante que os votos fossem levados a sério naquela época, e o quanto o sacrifício humano já era considerado comum naquela época, pasmem! Se Jefté conhecesse a vontade de Deus escrita nos textos sagrados da Torá, jamais teria feito um voto como esse.

É uma armadilha dizer precipitadamente: "Isto é santo!", e só refletir depois de fazer o voto. Provérbios 20:25

O voto que agrada a Deus

São muitos os exemplos positivos de votos feitos ao Senhor de forma a trazer glória ao seu santo nome: Ana (1 Samuel 1:10,11,20), Paulo (Atos 18:18), Elcana (1 Samuel 1:21)... Deus se agrada de quem vota com sabedoria, e se agrada mais ainda daqueles que cumprem a sua palavra, talvez por isso agiu com misericórdia com Jefté, pois apesar de seu voto de tolo, ele cumpriu seu voto, pagou o preço e está listado na galeria dos heróis da fé de Hebreus 11:32.

Cumprirei os meus votos, ao Senhor, na presença de todo o seu povo. Salmos 116:18